À beira mar


O oceano estava calmo, assim como meu coração. A vida parecia ter se perdido em algum lugar distante, enquanto a revoada de gaivotas brancas dançavam no céu azul que alimentava minha alma.

Ao longe podia-se ver crianças brincando à beira mar. A areia úmida, por mais frágil que fosse, dava vida ao castelo dos sonhos. Havia torres, grandes escadarias e portinhas delicadas, tudo parte de um mundo próprio e exclusivo daqueles pequenos humanos incessantes, nos quais sorriam pelo simples fato de conseguirem manterem o castelo de pé e longe da maré.



Eles se revezavam, se entreolhavam e buscavam a melhor maneira para que, nem mesmo a mais leve brisa, levasse tão rapidamente o trabalho minucioso e inocente que estavam se empenhando.



Meus pensamentos se confundiam à medida que o pôr-do-sol se aproximava. Cheguei a conclusão que, talvez devesse reforçar as pilastras do meu castelo vital - assim como faziam os pequenos ao longe -, que devesse acreditar em minha força e, acima de tudo, protege-lo dos vendavais vindos de outros oceanos, nos quais atacavam sem dizer hora, dia ou lugar.



O sol já havia se posto quando notei que não havia mais crianças ali, que a praia estava vazia e que o castelinho se tornara apenas uma lembrança. E por mais confuso que parecesse, entendi porque não se preocuparam em deixar para trás tudo que construíram em um dia exaustivo de sol e mar. Eles, mesmo tão pequenos sabiam, mais do que ninguém, que mesmo o castelo não estando mais ali, em pé, haveria sempre um novo dia para começar novamente, tudo mais uma vez. A vida era feita de oportunidades e por mais que não tivessem dimensão do quão desafiante era viver, não hesitariam em dar início a mais um castelinho com novas torres, escadarias, portinhas delicadas e uma segurança reforçada, pronta para se defender de qualquer maré da vida que ousasse em aparecer para tentar levar ao chão tudo que em um dia se ergueu. Era hora de ser forte, arregaçar as mangas, reconstruir, dar um sorriso para o vento, coletar a luz do sol, inspirar, respirar, se armar e por fim, começar. Começar mais uma vez.


Por Guilherme Faquini

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