A batalha do amor que vive



A forte tempestade me fez acordar com o barulho das gotas d’água que atacavam o vitral da janela do quarto. As árvores, do lado de fora, balançavam em conjunto, mais parecendo um balé coordenado. A vida lá fora estava tão gélida e fria que, tudo que eu mais queria era conseguir dormir sem interrupções, acordar bem e me livrar do pesadelo que, mesmo apagado como uma rasura no papel insistia em atormentar meu coração pálido e quase sem vida.

Os momentos que vivi ao seu lado continuavam guardados na caixinha revestida com papel celofane que um dia, deitado em sua cama e observando nosso céu imaginário, você me entregou. Havia tudo em seu interior, todas nossas recordações regadas com o mais puro sentimento que alguém pode desejar e, observando lá no fundo, perdido em meio às lantejoulas e cartas, via seu sorriso tímido, quase sem vergonha.

Meu peito doía como se uma faca tivesse sido penetrada contra o mesmo. Eu continuava deitado, olhando para o teto desbotado enquanto as lágrimas molhavam meu rosto. Você havia sido o melhor de tudo que eu tive em minha vida, assim como a paz que você me concedia gratuitamente, mas que por uma tempestade incontrolável e devastadora, fomos levados para pontos distintos, onde minha mão não conseguia tocar a sua, onde a distância parecia nos atordoar como um zumbido ao pé do ouvido.

Era claro que eu necessitava de você para voltar a sorrir. Fiz de tudo, lembro-me claramente e, mesmo sendo um errôneo ser humano, te contemplei com meu esforço diário e com meu amor incondicional, no qual não fora suficiente para fazê-lo entender que era real.

Eu chorava por ter sentir distante, por não poder te cobrir em uma madrugada fria e te abraçar quando um pesadelo me atacava numa noite qualquer. Chorava por saber que nunca amara alguém assim que, naquele momento, já não pertencia mais a mim.

E não era uma melancolia de um solitário confuso, era amor de verdade. Amor que gritava como uma criança com medo, como alguém que apela por socorro. Onde estaria agora? Será que ainda pensara em mim? Será que sou seu passado ou ainda, mesmo relutante, busca na caixinha que também lhe dei, as lembranças do melhor que dois apaixonados podem sonhar?

E nada conseguia fazer-te esquecer, tudo estava vivo como uma ferida aberta que custara a cicatrizar. Será que ainda havia tempo? Eu poderia te reconquistar? Será que seu coração ainda batia por mim? Será que nossa canção continuara tocando em seu IPOD e nossa versão em português ainda estava guardada? Será?

Meus olhos se fecharam automaticamente e na escuridão pude encontrar novamente seu sorriso. Era você, irradiante. A pessoa que jurei nunca deixar, mas que optou em seguir seu caminho sozinho. A pessoa que mais me fez sonhar, mas que escolheu sonhar sozinho. A pessoa que mais amei, mas que decidiu não me amar mais.

Definitivamente aquele cenário que via em pensamento não combinava com você. Faltava cor, vida, gargalhadas e beliscões. Ah, como eu sentia sua falta! Como eu te amava, meu amor!.

Não havia mais nada o que fazer. Ou havia? Pedir em oração, uma conversa entre eu e Deus, na tentativa de que ele tocasse em seu coração por mim, já que tocar você era quase impossível naquele instante.

- Não chore, filho. Eu estou contigo!

A voz ia e vinha em coro. A frase se repetia centenas de vezes e meus pêlos se arrepiaram, seguido de uma sensação de calor e acalanto. A chuva parara lá fora.

Eu não estava sozinho e por mais que pensasse em um adeus eterno, Deus me provara que o amor sempre vence. Talvez fosse exatamente isso que tentara me mostrar todos os dias, durante todas as vezes que chorava descontroladamente sozinho em meu quarto que um dia foi nosso ou quando gritava sobre a ideia de desistir de tudo, inclusive da vida.

Você sabia deste amor, reconhecia meu amor e no fundo entendia que não fui um monstro. Eu apenas errei e concertei. Tudo bem que, assim como seu exemplo, o papel nunca voltaria a ser o mesmo depois de amassado, mas eu amava você e desistir era oferecer a própria cabeça em uma badeja de prata, gratuitamente.

O que eu teria a perder? As únicas certezas que me restavam eram: ou eu morreria na guerra ou morreria tentando. E então, como um pássaro que foge da gaiola, respirei aliviado e decidi que, por mais dolorido que fosse eu lutaria por você até o último batimento deste coração valente, que agora, só pensava em, novamente, voltar a viver por aquele que um dia me mostrou o real valor da felicidade: você.

{Trata de meterte en estos viejos jeans pero así eres perfecto para mi} ouvi antes de adormecer em um sono profundo.


Por Guilherme Faquini

Um comentário:

  1. Eu penso... nunca passei por isso. E tenho certeza q nunca passarei.

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