O eu solitário


A dor que feria minha alma era a mesma que me fazia acreditar que um dia tudo acabaria. O oceano relutava contra si, enquanto as verdadeiras ondas me arremessavam contra as paredes inquebráveis dos meus sentimentos. O litoral estava vazio e nem mesmo gaivotas e pássaros pesqueiros ousavam planar pelo eco doloroso. Páginas em branco, caneta ao solo, nada me impulsionava além, nada me fazia sorrir. Nada este que incorporava pouco a pouco meu ser frágil e inexpressível.

Meu olhar se perdera à medida que o sol se ia com a companhia das nuvens brancas, quase tufos de algodão, que lentamente davam lugar a lua e suas amantes brilhantes que alimentavam meus olhos opacos e marejados. Lágrimas tocavam a areia de tom-pastel, escorrendo dentre as pequenas conchas delicadas, presas em cavidades provocadas pela maré calma e quase dançante.

Quantos segredos guardaria o oceano? Quantos mistérios ocultava a vida? Quantas saídas justificáveis, nós, seres humanos tínhamos? Quanto mais sofrimento, dúvidas, esperanças rompidas e medos infinitos haveriam de vir para entendermos que, talvez, este vento sombrio não seria forte o bastante para colocar ao chão as pilastras que a vida nos concedeu? Quantas lágrimas mais rolariam rumo ao oceano sem fim? Quantos tantos outros sorrisos seriam soltos no ar, longe das páginas do que um dia almejei ser o encanto de minhas alegres memórias?

Alegres memórias que ainda não faziam parte daquele que hoje reconheço como o eu solitário que navega perdido em um barquinho de papel sobre as águas de um rio de curvas perigosas e traiçoeiras.

Guilherme Faquini é blogueiro e escritor de cadernos de gaveta, além de um amante do mundo cibernético. Siga-o no twitter: @GuiFaquini

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