Deseja deletar a pasta?



No meu mundo imaginário, seres humanos falavam a língua da emoção, cujo entendimento era recíproco. No meu mundo não havia armas e crianças se reconheciam com o simples girar de um pião, que ao tocar o chão de terra batida desenhava o caminho da liberdade. 

No meu mundo havia cores, mas em uma resolução bem mais intensa que qualquer Full HD. Havia também grama molhada de orvalho matinal, cheiro de amanhecer simples e de café quentinho que fazia-me escrever as mais belas poesias. Meu mundo era lindo e eu não queria ter que deixá-lo. Mas, como um dia dissera minha avó em sua cadeira de balanço com vista para o infinito: ter medo é natural, mas vencê-lo é necessário.

Talvez, ela estivesse certa. Eu tinha medo do mundo que não era o meu, mas que me esperara no fim da estrada. Diziam-me que por lá o sol não brilhava, que as pessoas não se olhavam e que a paz era comercializada em vitrines de vidro. E de fato era.

Derrotei muitos dragões para escrever até aqui, meu mundo de dente de leite ficou apenas na lembrança, assim como a carinha espirituosa de minha avó que agora vive em outro reino encantado. Eu sigo por vez ou outra tropeçando no amor que cai pelo asfalto como lixos descartáveis, mas com calma tento devolver aos donos descuidados.

Como viveria o Pequeno Polegar em um lugar assim? Certamente seria obrigado a crescer em questão de minutos, pois os pequenos são esmagados com frieza pelo ego de uma sociedade cada dia mais decadente.

Se um dia eu pudesse, voltaria ao meu mundo para, nem que por uma última vez, escrever meus sentimentos em um papel velho, deitar debaixo de pedaços de retalhos e ouvir quietinho o barulho da chuva tocar as folhas, enquanto o sono me beijava e dizia-me: aqui você está seguro. 

Pena que este meu mundo estava agora zipado, distante, no fundo de uma pasta vazia, fria e e em formato doc. Acredito que somente um backup seria capaz de acalmar minha mente, de me impulsionar para frente e resgatar tudo aquilo que o mundo dos sorrisos eletrônicos deletou de mim. Seria o fim? 


Por Guilherme Faquini



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