Se não há mais razões, por que insistir? A vida é um livro
sem fim. Não há como definir personagens
ou ações, e destinos elaborados são inúteis. A grande estação do vai-e-vem é o portal para a Era do
agora, onde tudo acontece, termina e acontece outra vez. É a sua vez. A rotina
do hoje, que perturba, é selada com a vontade de romper as amarras invisíveis.
Nada mal seria escalar até o alto da montanha mais alta para
contemplar o que de mais precioso perdemos. Somos ociosos por natureza, amamos
máquinas, bebemos eletricidade e respiramos a futilidade.
Feliz da criança que se sujou um dia na terra úmida, que em
sua essência exala o cheiro de infância. Feliz também dos que subiram em
árvores, que se furaram com espinhos e que nunca se sentiram sozinhos. Ser
todos os heróis do mundo era um grande desafio. Pessoas corriam perigo a todo
instante em um mundo blindado, no qual o acesso era restrito para aqueles que
não possuíam uma capa maneira.
Seria eu o único louco acordado nesse mundo de gente
adormecida e infectada pelo brilho de telas que substituem uma boa conversa?
Seria eu o único a cheirar páginas de livros, ouvir rádio AM, revelar fotos,
montar murais, colar pôsteres no quarto e comprar pijamas com estampas de
desenhos animados?
A janela fechada me transmitia segurança. O limite que
separava o censo comum do meu pedaço de chão indestrutível era precioso.
Permitir o sol entrar, era permitir que invasores me rendessem. Dormir poderia
ser perigoso. Toc! Toc!
Não, não quero sair.
Celular? Mas o que é isso?
Deixe-me em paz, tenho canetas para desenrolar
fitas e isso basta, ok?
Não, deixe-me ler apenas mais dez minutos?
Não, eu não tenho conexão!
Estou aqui do seu lado, por favor, não se torne refém. Seja forte.
Eu?!
“SUA MENSAGEM NÃO PODE SER
ENVIADA POR FALTA DE CONEXÃO. POR FAVOR, VERIQUE COM SUA OPERADORA DE TELEFONIA
MÓVEL. SE AINDA NÃO É CLIENTE, VOCÊ ESTÁ FICANDO PARA TRÁS E SE TORNANDO UM
PERFEITO IDIOTA!”
TRIIIIIIIM!
O dever me chamava, o galo cantava, era hora de acordar. Por sorte sobrevivi, mesmo rolando fios, Gadgets e hardwares abaixo. Que falta me fazia os selos. Acordar com o cachorro latindo para o carteiro era mais divertido. Impressão minha ou cartas não existem mais?
Por Guilherme Faquini
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