Humanos de São Paulo: conheça o projeto que dá vida aos moradores da maior cidade do país



A cidade de São Paulo não para, assim como a população que nela habita. O caos de todos os dias acelera os passos e por vez nem se quer notamos aqueles que passam ao redor de nós. E foi baseado nessa metrópole dos contrastes que nasceu o projeto ''Humanos de São Paulo'', no qual tem como propósito revelar através de imagens as mais diferentes e curiosas histórias de pessoas que fazem diariamente o reduto urbano acontecer. 

Os responsáveis por essa fascinante empreitada jornalística são Rodrigo Quartarone - estudante de publicidade - e Paula Simões - estudante de jornalismo. Juntos decidiram pôr em prática uma vontade em comum: fotografar a vida de São Paulo e coletar as histórias sob um olhar nada sofisticado. E são essas histórias que vem agitando as redes sociais, em especial o Facebook, onde a página oficial se encontra ativa. 

Atualmente o perfil conta com mais de 3 mil curtidas, levando em consideração o curto tempo de criação, 11 de junho deste ano. A repercussão foi imediata e, talvez os paulistanos estivessem carentes de um movimento assim, afinal, por mais que defeitos existam, São Paulo segue guardada com carinho por seus moradores e por todos que fazem daqui sua terra-natal.

Segundo Rodrigo, ''Humanos de São Paulo'' teve como inspiração o ''Humans of New York'', projeto com o mesmo nome, no qual retrata em fotos a vida da maior cidade dos Estados Unidos. ''A ideia na verdade é inspirada pelo projeto Humans of New York cuja página já conta com mais de sete milhões de seguidores." - Revelou Rodrigo ao Blog.

Se você ainda não conhece o trabalho de Rodrigo e Paula, confira a entrevista abaixo e mude suas impressões sobre São Paulo.

BLOG: Antes de mais nada, contem-nos quem são os responsáveis fazer o Humanos de São Paulo acontecer? E o que fazem?
Bom, somos dois os criadores: Rodrigo Quartarone, que sou eu, estudo publicidade e sempre fui fascinado por fotografia. Sempre fui uma pessoa que tinha muitas ideias e pouca iniciativa ou apoio. As pessoas achavam bonitinho e não davam mais bola, até que conheci a Paula Simões, uma estudante de jornalismo disposta a fazer nossa ideia de projeto se tornar realidade. Nós dois trabalhamos juntos numa instituição cultural, ela em assessoria de imprensa e eu no departamento de marketing, e foi assim que nos conhecemos.
BLOG: De onde surgiu a ideia de revelar histórias de São Paulo através de fotos?
A ideia na verdade é inspirada pelo projeto Humans of New York (projeto do fotógrafo americano Brandon Stanton) cuja página já conta com mais de sete milhões de seguidores. Quando o projeto dele começou a ficar famoso, uma onda de “Humans of” começou pelo mundo inteiro, mas faltava em São Paulo. Assim, muito interessados pelo projeto e com uma proposta um pouco diferente, criamos o Humanos de São Paulo.
BLOG: Há quanto tempo a página do HSP (Humanos de São Paulo) está no ar?
Estamos no ar desde 11 de Junho deste ano, e já contamos com mais de 100 entrevistas realizadas.
BLOG: Atualmente, a página conta com mais de três mil curtidas. Esse número já representa parte de uma meta a ser atingida por vocês?
Quando começamos o projeto, nosso intuito era apenas praticar e melhorar nossas habilidades tanto jornalísticas como fotográficas. Não havia ambição em aparecer em jornais ou blogs, ou ser tão apreciado assim. O crescimento rápido nos espantou sim, mas estamos focando sempre na qualidade das entrevistas e das fotos e na interação com o público.
BLOG: Há um público específico que acessa a página? Se sim, qual?
Na verdade não há. Não existem restrições de idade, classe ou mesmo de localização. Pessoas que querem conhecer outras pessoas e suas histórias podem curtir e aproveitar o conteúdo, mesmo não sendo tão fã da cidade assim. Acho que se há uma coisa em comum de nosso público inteiro é a curiosidade.
BLOG: Qual o maior desafio de se realizar um trabalho como este?
Creio que é achar o ponto certo no entrevistado, sabe? A conversa é super livre e depois vamos afunilando os temas para encontrar uma história ou citação interessante ou relevante e, na verdade, esta parte do trabalho é bem complicada pois é uma pessoa estranha se abrindo para outros dois estranhos.É difícil.
Imagem: Reprodução/Globo.com
BLOG: Vocês, certamente, não recebem retorno financeiro para a realização da atividade. Portanto, o que definem como o combustível para manter esse projeto em movimento?
Não recebemos nenhum apoio financeiro ou retorno. O combustível do projeto, por enquanto, é a nossa vontade e o retorno das pessoas curtindo cada história e se identificando. Digo por enquanto, pois muitas pessoas têm nos procurado para participar do projeto, então estamos pensando em aumentar a equipe e sermos impulsionados pela vontade coletiva.
BLOG: De que forma ocorre a abordagem dos personagens em questão? A aceitação é natural?
Decidimos um lugar e vamos os dois: Paula com o gravador e eu com a câmera. Chegando no local escolhido começamos a andar e andar. Não escolhemos muito as pessoas, simplesmente vamos no impulso. Pedimos sempre licença e explicamos o projeto avisando sobre a divulgação dele no Facebook –esta é a hora da rejeição, ao falarmos do Facebook as pessoas costumam a fazer cara feia-. Mas normalmente não há tanta rejeição. Começamos a conversar sobre a vida geral da pessoa, o que ela faz, da onde veio, sua família. Então, ou lançamos uma pergunta ou afunilamos a história para encontrar o ouro.
BLOG: Sabemos que há muitos desafios ao se trabalhar em locais públicos. Vocês já passaram por alguma situação constrangedora durante a abordagem de pessoas?
Já sim. Na verdade estou adiantando uma história que será publicada na segunda-feira dia 21/7. Fomos ao Parque da Luz, onde existem várias prostitutas. Resolvemos entrevistar uma senhora de aparência interessante que estava sentada num banquinho por lá, nesse momento da abordagem ela ficou super brava e contou sobre a vez que já tentou matar um repórter da Globo que a fotografou sem permissão e que só não mandava nos matar pois fomos educados e pedimos antes. Não pudemos fotografá-la, porém saímos de lá bem tensos.
BLOG: E se tratando de São Paulo, há muitos locais para serem explorados. Quais os lugares que mais utilizam para garimparem histórias? Há algum específico?
Como trabalhamos na região da Av. Paulista, este é o nosso local mais comum. Porém percebemos a necessidade de outros locais, portanto estamos procurando viajar mais para Luz, Sé, Parque Ibirapuera... Em nosso site as pessoas podem conferir por onde já passamos. Na página, muitos seguidores pedem para irmos à periferia em busca de histórias, este é nosso próximo passo. Mas gostamos de frisar que não existe classe para se ter uma bela história: todos os humanos de São Paulo têm algo para falar.
BLOG: Dentre todas as histórias, alguma já emocionou vocês? Por que?
Pessoalmente, uma história não publicada, pois a pessoa não autorizou, foi a que mais me emocionou. Durante a conversa perguntamos sobre a relação da entrevistada com a mãe. Quase que imediatamente ela começou a chorar e foi embora. Foi aí que percebi o quão forte era esse projeto que mexe com histórias e pessoas de verdade.
BLOG: Há uma seleção ou todas as histórias coletadas são publicadas na página?
Não. Não há uma seleção propriamente dita, porém todas têm que ter um algo a mais: um toque de felicidade, de identidade. Por exemplo: recentemente perguntamos ao um homem algo sobre ele que poucas pessoas sabiam. Ele respondeu: “Eu sou legal pra caralho”. Mesmo assim postamos, pois só essa frase mostra muito de sua personalidade, e é isso o que buscamos, pessoas de personalidade, identidade e histórias que nos ajudem a mostrar o que é a cidade a partir das pessoas.
BLOG: E, voltando novamente para a repercussão no Facebook, quais os tipos de divulgação que utilizam para alavancar a visibilidade?
Chegamos aos ouvidos da rádio Bandeirantes e da Globo e isso foi muito bom. Sempre que nos pedem uma entrevista ou apenas nosso release para publicar, por menor que seja o blog, nós o fazemos. Não custa nada e é muito bom que as pessoas possam ter acesso às mais diversas informações sobre o Humanos de São Paulo dos mais diversos lugares.
BLOG: A repercussão natural foi responsável por levar o trabalho de vocês ao conhecimento do núcleo de jornalismo da Rede Globo? Como foi participar do SP TV e receber esse reconhecimento?
Creio que um de nossos convites eletrônicos chegou ao um produtor da Globo que se interessou muito sobre o projeto e lançou a pauta que obviamente foi aprovada. Foi uma experiência única poder mostrar em rede nacional um projeto tão recente e com tanto para apresentar. Poder explicar de verdade e convidá-los a nos acompanhar. O reconhecimento têm sido ótimo e outras páginas até foram criadas, porém nós mantemos o crescimento orgânico, sem nenhum impulso monetário.
BLOG: Há um objetivo maior a ser alcançado?
Sempre há! Queremos o maior número de histórias. Queremos realmente formar uma identidade para São Paulo a partir destas pessoas que por aqui passam ou vivem. Existem alguns projetos em andamento, na verdade para serem aprovados, mas esperamos que em breve possamos compartilhar com todos.
BLOG: Esperam mudar algo em relação à cidade com o projeto?
Acho que nossas ambições são menores. O que pretendemos com o projeto é mudar a maneira como umas pessoas enxergam as outras na cidade. Mostrar que todos nós temos uma história e começar a compartilhá-las. Como no tempo de nossos avós, que quando andavam de trem conversavam com a pessoa ao lado ao invés de ficar no celular ou com os fones de ouvido que nem existiam.
BLOG: E, para encerrar, gostaria de saber o que São Paulo representa para vocês e por que merece ser vista com outros olhos?
Todos falam que é a maior cidade, a mais rica, a mais cultural, a mais isso e aquilo. Para mim, São Paulo é a cidade das pessoas. Com tanta gente assim, são muitas histórias para serem ouvidas, muitos acontecimentos. São Paulo é feito de gente, e queremos focar neste fato.

Recentemente o jornalístico SPTV, apresentado por César Trali, abordou o trabalho dos jovens e sobre a importância que o movimento possui para a capital paulista. Para assistir a reportagem na íntegra clique aqui.

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