Crescer

Nascemos sem dentes, chorando e achando tudo muito estranho. Quando chegamos por aqui já sentimos falta daquele abrigo quentinho em que vivemos durante nove meses, sem saber que, na verdade, deixamos para sempre uma colônia de férias.

Pouco a pouco os olhos vãos se abrindo e observando tudo ao redor até que as primeiras palavras sejam aprendidas. Alguns caminham depressa, outros gatinham por preguiça própria, mas a verdade é que todos crescem.

E se eu pudesse ser Peter Pan, seria. Viver na terra do nunca era bom demais. Nada me dava medo. Comida na hora certa, docinhos, mimos, abraços, carinhos, carrinhos e tudo de novo todos os dias. Mas aí, devagarinho a árvore vai se modificando e se tornando mais forte, as raízes começam a aparecer e quando nos damos conta já estamos caminhando sozinhos.

Ai, como eu queria alguém para me socorrer nas noites de pesadelo! Posso chorar em noites de pesadelo? Cadê aquele paninho velho, típico de todos nós? Pegaria mal dizer que agora tenho que me defender com armadura? Acho que os perigos também crescem!

Mas por onde ir? Por onde seguir? Tantos caminhos e direções que chega a ser tentadora tamanha fartura. Crescer parece ser legal. Quantos amigos! Sou tipo que coleciono recordes...do quesito popularidade em redes sociais? Minha avó estranharia esse mundinho da tela. 

Rede boa era rede presa por cordas, na varanda de casa. Nela cabia um, dois, três, era um barco viking e eu era o capitão. Num balanço só quase rolávamos mar adentro, sendo somente assim a maneira de entendermos, mesmo banguelas, que o oceanos mais se parecia com um chão duro. E foram galos, não dos que cantavam de manhã, mas dos que me levavam para o hospital todas as vezes que com uma queda me presenteava o dia. E, hoje em dia, mesmo sem ferimentos, daria tudo para voltar no tempo, abrir livros infantis e pegar no sono sozinho, acordar cedinho e assistir todos os desenhos, repetidos e amados desenhos. Queria mesmo não ter que escolher, ser capaz de não me abater, mas infelizmente o dom de se refazer não condiz com essa palavra estranha que batizaram de crescer.


Por Gui Faquini

Um comentário:

  1. AHH!! A infância.. querida infância! Saudades de tempos que não voltam, saudades de machucados de dor passageira e superficial.. amei o post!

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